Jornal da Noite Nº 4

Os efeitos e sucessos da bebida alcoólica

E evidente que o homem não ingere bebidas alcoólicas pelo gosto, mas pelo efeito. É mais agradável chegar-se a esse efeito tomado um Forestier do que um Telephone, vinho também vendido nos anos quarenta e cujo gosto pavoroso foi descrito por Rubem Braga em crônica recente. Mais agradável ainda seria inebriar se com um desses simples verdes brancos portugueses ou então com um brillant, velouté, généreux Chateau Lafite-Rotschild, o príncipe dos vinhos.

Provavelmente o primeiro vinho foi bebido logo após a invenção da cerâmica. Alguém esqueceu, dentro do pote, algumas uvas que fermentaram. Ao beber aquela mixórdia de gosto repugnante o homem sentiu em sua mente um efeito tão extraordinário que desejou repetir a experiência. Para alguns pesquisadores isso aconteceu no ano 8000 antes de Cristo.

Tão antiga quanto o vinho é a cerveja. No ano 6000 a C, na antiga Babilônia, já se bebia cerveja, feita de cevada, espelta (triticum spelta, um trigo de qualidade inferior) e mel. O pão é consumido há mais de 10 mil anos e a cerveja, provavelmente, foi inventada pelos padeiros. O interessante é que a fermentação, utilizada pelo homem durante milhares de anos, só teve uma causa descoberta em 1856, por Pasteur, de forma aleatória, como ocorre com quase toda grande descoberta.

Vinho e cerveja são, pois, anteriores a todas as outras bebidas. Existem, em todos os continentes e ilhas do mundo, bebidas de grande consumo local, como a cachaça, originada da cana de açúcar e que foi bebida pela primeira e vez no Brasil no século XVI; o sakê, japonês, feito de arroz, o pulque e a tequila, feitos no México, de agave, uma planta da qual deriva também a mescalina; oburukutu, nigerano, produzido do sorgo, uma gramínea semelhante ao milho, etc. etc. etc., sendo possível mas não provável, que algumas sejam tão antigas quanto o vinho e a cerveja. Descoberta essa fonte de prazer (o álcool) o homem passou a utilizá-la em busca da sensação de alegria e liberdade que provoca, principalmente os artistas e em especial os escritores. Entre os alcoólatras famosos o número de escritores supera o de qualquer outra categoria profissional. Existiram, e existem, dançarinos alcoolista, atores e militares, como o general Grant, e músicos como Musorgski e Tchaikovski e até mesmo reis, como Eduardo VIII, da Inglaterra, que largou o trono pelo amor de uma plebeia, a sra. Simpson.

Um ébrio famoso, que não pode ser incluído em nossa galeria de artistas nem mesmo como diletante, mas cuja história é pitoresca, foi o general Ulysses S. Grant. Quando ainda capitão, Grant foi expulso no exército americano por alcoolismo. Sete anos mais tarde, quando Lincoln pediu voluntários para a guerra civil americana, Grant voltou ao exército. Por sua competência logo foi pro- movido a general e, em 1864, era colo colocado no comando de todos os exércitos da União. Informado de que o general Grant bebia uisque na frente de batalha o presidente

Abrahão Lincoln retrucou, “descubram a marca que ele bebe, para que eu a possa dar aos meus outros generais”. Após a guerra, reconhecido como um herói nacional, Grant foi eleito, e reeleito, presidente dos Estados Unidos.

Para os que gostam de beber – como a turma do jornal da Noite – a carreira de Grant é uma história inspiradora. Como também a de Eugene O’Neill. Tal como Grant. O’Neill foi expulso de uma instituição quando jovem, a Universidade de Princeton, ao jogar uma garrafa na janela da casa do presidente da universidade, Woodrow Wilson, que mais tarde viria a ser presidente dos Estados Unidos. Desiludido e frustrado, O’Neill passou a beber ainda mais desesperadamente. Sua bebida era o Benedictine, um licor que recebeu o nome da Ordem religiosa a que pertencia o seu inventor, no século XVI, o monge dom Bernardo Vincelli, que pretendia (ah, o acaso!) preparar um medicamento.
Nota: lembre-se, estamos falando de 1982, ok?

Fizemos uma coletânea e selecionamos algumas frases ouvidas em alguns bares da cidade durante a última semana:

Só pode gritar com o garçom freguês de filé mignon” (De um certo garçom da cidade).

Amo-te sapatonicamente, minha filha” (De duas garotas muito risonhas na mesa de um restaurante).

Se não existisse o mau gosto, ninguém plantava jiló” (De uma garota que pediu Cinzano e foi criticada pelas amigas).

Mocinha muito recatada nem sempre não é de nada” (De dois caras que falavam demais).

Aposto a conta se ela não voltar e pedir desculpas” (De uma moça que tentava acalmar um cara que brigou com a namorada).

Tenha muito cuidado quando for confidenciar alguma coisa perto de repórteres, eles falam mais que a boca” (De uma grande figura da madrugada).

Se você está na Cantina da Nena, não se esqueça da Lasanha e do Camarão à moda.

Se você está no Girassol, peça aí ao garçom aquela Casquinha de Siri que o Carlinhos e o Lúcio tem como o destaque da casa.

Você que está aí na Av. Adhemar de Barros, procurando uma lanchonete, dê uma passadinha aí no Parada 800.

Está no Arcada’s e não sabe o que beber? Fale aí com o garçom, eles têm os melhores vinhos nacionais e estrangeiros.

Indo ao Perequim, lembre-se: c pizza de lá faz muito sucesso.

Se o seu problema é encontrar um lugar que tenha cerveja bem gelada, lembre-se deste nome: Bar do Canário.

Se você está no Restaurante do Tio vai ser difícil decidir entre os excelentes pratos da casa.

Um telefone que ajuda a mentir

Os proprietários de algumas das principais casas noturnas de São Paulo e Rio começam a estudar a possibilidade de instalação em suas boates da mesma novidade que alcançou muito sucesso nos Estados Unidos: uma cabina telefônica para ludibriar esposas. O negócio funciona da seguinte forma: a cabina reproduz sons e barulhos de fundo, tudo de acordo com a mentira que se pretende dizer. O som de uma oficina mecânica, por exemplo, para quem quiser mentir que está com o carro quebrado: são marteladas, arranques de motores, tudo como se estivesse numa oficina. Ou no escritório fazendo serão, com máquinas datilográficas e vozes ao fundo. Pode-se dizer também que se está numa estação ferroviária (sons de apitos, etc). É claro que as boates paulistas interessadas pretendem que a coisa. funcione mais como uma bossa. Mas que será usada pra valer, disto não tenham dúvidas.

Jornal da Noite é uma publicação semanal (com distribuição gratuita), tiragem de 3.000 exemplares, com redação à Rua Almadina, 202 – Jardim Vale do Sol – São José dos Campos (SP). Todos os direitos reservados. Diretor Administrativo: José Maria Soares. Diretor de Redação: Antônio Donizetti de Carvalho, MTPS nº 12.886-Reg. no Sindicato nº 7012. Arte: Santos Chagas. Colaboraram nesta edição: Dailor Varela, Edna Petri e Darcy Ribeiro. Composição e Impressão: Jornal ValeParaibano – Estrada Velha Rio-São Paulo, 3755 São José dos Campos (SP).

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